Local: Auditório do CAC- UFPE (Campus Recife)
Com o Prof. Dr. Marcus Garcia de Sene (UPE -Campus Garanhuns)
[PB] A Sociolinguística, em termos gerais, fundamenta-se na premissa de que a língua constitui um sistema estruturalmente heterogêneo, cuja organização está intimamente relacionada à estrutura social. Como discutem Plaza e Gorski (2024), essa perspectiva implica, direta ou indiretamente, em noções como a de historicidade e cultura — na medida em que a língua é situada historicamente e culturalmente —, a de sujeito — considerando que falantes/escreventes e ouvintes/leitores imprimem dinamismo ao sistema linguístico por meio da interação —, e a de variação/mudança, manifestada em distintas dimensões: diastrática, diatópica, diafásica, diageracional/diacrônica e diamésica, todas operando nos diversos níveis da estrutura linguística. Tais noções, longe de serem estanques, articulam-se em conjuntos conceituais que se sobrepõem e se entrecruzam em diferentes níveis de análise. Nesse contexto, os bancos de dados linguísticos de fala — sobretudo aqueles orientados pelos fundamentos da Sociolinguística Variacionista — têm assumido papel central na descrição do português brasileiro. Contudo, os modelos de constituição de corpus inspirados nas diretrizes da primeira onda da Sociolinguística (ECKERT, 2012) não contemplam, de modo suficiente, a complexidade das dimensões sociais relevantes, especialmente no que se refere aos marcadores de raça e gênero. Considerando que esses marcadores podem ser experienciados e interpretados de formas diversas, a depender tanto da comunidade quanto do sujeito que nela se inscreve, a organização de um corpus sociolinguístico que os integre representa um desafio significativo. Isso se torna ainda mais delicado diante da necessidade de garantir princípios fundamentais da ciência, como a possibilidade de generalização dos resultados, especialmente nos critérios de confiabilidade — isto é, a repetição dos mesmos resultados mediante nova análise — e intersubjetividade — a obtenção de resultados semelhantes por diferentes pesquisadores utilizando a mesma metodologia (BAILEY; TILLERY, 2004). Diante dessas questões, esta conferência propõe uma reflexão crítica sobre os desafios metodológicos e teóricos associados à construção de bancos de dados sociolinguísticos sob a ótica de uma concepção de linguagem como prática social, segundo a qual a linguagem constitui a sociedade, e esta, por sua vez, constitui a linguagem (BELL, 2016). O foco recai, particularmente, sobre a urgência de se incorporar, de forma sistemática e crítica, os marcadores sociais de gênero e raça na composição das amostras, de modo a viabilizar análises mais amplas, inclusivas e cientificamente fundamentadas sobre as inter-relações entre linguagem, sociedade e variação.